Eu, os Portais das Trançadeiras na Marcha Global das Mulheres Negras: quando o corpo entende que também é político
Reflexão sobre a presença de Amanda Coelho na 2ª Marcha Global das Mulheres Negras, trazendo os Portais das Trançadeiras como linguagem política, ancestral e coletiva.
Amanda Coelho — Orí Afrofuturo
12/2/20253 min read


Estar na 2ª Marcha Global das Mulheres Negras, em Brasília, no dia 25 de novembro, foi um movimento que nasceu de dentro para fora. Levei comigo meu corpo território, minha história e os caminhos que as tranças abriram para mim. Porque foi justamente através dos trançados que eu entendi que a política também me pertencia.
Foram as tranças que me mostraram que meu corpo é político, que minha existência é uma reivindicação em si — e que o bem viver não é concessão, mas direito. Cada trança que fiz, cada penteado, cada adorno… tudo isso me ensina a ler o mundo de outras formas. Em nossas estéticas, percebo narrativas vivas que carregam sabedorias que tentaram e, ainda tentam apagar. Mas resistimos e existimos porque nos reatamos e nos retrançamos, como os fios que seguramos entre as mãos.
Esse movimento é Sankofa pura: voltar atrás para trazer o que é essencial; retomar legados; reconectar histórias; reavivar a potência das mulheres negras que sempre fizeram política, com ou sem reconhecimento. Porque não existe política justa sem mulheres negras.
As tranças me colocaram nesse lugar de pertencimento, reconstrução e projeção. Me fizeram acreditar que é possível reivindicar nossos espaços por direito e, mais do que isso, construir os espaços que ainda não existem, aqueles que precisam caber em nós, e não o contrário. Esses portais me sustentam, me movem e me impulsionam a marchar.
Por que eu marcho — e por que é tão importante estar lá?
Marcho com orgulho. Mas é um orgulho que nasce também da revolta organizada. Marcho pelo bem viver, pela dignidade, pelo respeito, pela vida.
Marcho por todas as mulheres negras católicas, evangélicas, de matriz africana, jovens, adultas, mais velhas, artistas, trabalhadoras, estudantes, cuidadoras — por todas que seguram o mundo e constroem esse país todos os dias.
A Marcha é mais que um dia. São meses de preparo, articulações nacionais e internacionais, que culminam numa semana de mobilização política, encontros, debates, atividades culturais, acolhimento e construção de pautas urgentes.
É um marco histórico que reúne delegações de diversos estados e países, articulando lutas e potências que não cabem em nenhuma estatística.
Nesta edição, integro o Comitê Sudeste, atuando na coordenação e apoio do transporte — ajudando a garantir que nossa chegada e nossa experiência sejam acolhedoras, seguras e afetivas. Estou nesse movimento fazendo, aprendendo muito também: é sobre cuidado coletivo, afetos, força compartilhada e a coragem que se expande quando marchamos juntas.
Levo comigo os Portais das Trançadeiras
Sigo levando os Portais das Trançadeiras porque são eles que traduzem uma grande parte da minha caminhada. Eles reafirmam que nossas estéticas são políticas, que nossos corpos são arquivos vivos, que nossas criações são linguagem, memória e futuro.
Cada trança, cada adorno, cada tecido e cada gesto reafirma: nossos corpos são portais de saber, presença e transformação.
São portais porque ligam mundos, porque costuram histórias, porque permitem que nossas existências continuem abrindo caminhos para as que virão.


Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil










📺 Veja mais no vídeo da Marcha e dos Portais das Trançadeiras:
👉🏾 (insira aqui o vídeo quando desejar)
As atividades na Câmara dos Deputados começam às 10h30, com uma sessão solene no Congresso em homenagem à marcha e ao protagonismo político das mulheres negras
(crédito: Danandra Rocha/CB/DA.Press)


Presença!
Agradeço a todas as mulheres negras que somaram, presencialmente ou virtualmente, fortalecendo a Marcha de onde estavam. Porque a marcha é coletiva,
É estética,
É política,
É memória,
É futuro!
E quando marchamos, deixamos marcado que nada sobre nós será decidido sem nós. E que nenhum caminho possível existirá sem que nossas histórias o sustentem.
Mulheres negras marcham pela Esplanada dos Ministérios exigindo reparação histórica, políticas públicas e protagonismo político. Crédito: Foto: Flávia Quirino/Brasil de Fato DF


