Yankoze Munda - Wankoze Munda: o ritual que pulsa nas águas do espírito

Descrição do post.

ANCESTRALIDADES

Amanda Coelho

8/10/20253 min read

Nos últimos dias, fui atravessada por uma imagem.

Um vídeo que não era só um vídeo, mas um chamado. Mulheres em Ruanda realizando um ritual ancestral, com saquinhos de água, à beira-mar, entoando as palavras “Yankoze Munda” e “Wankoze Munda”.

Ao assistir e ouvir essas palavras, algo me tocou, me moveu.

Senti no corpo, no Orí, no coração e nesses caminhos compreendi que se tratava de uma evocação de uma força maior através das águas um ritual espiritual de força, de renascimento, de conexão com as águas e com a ancestralidade contínua e pulsante.

A expressão “Yankoze Munda”, em kinyarwanda um dos idiomas oficiais de Ruanda, falado pelo povo banyarwanda e também presente em algumas regiões de Uganda, Burundi e da República Democrática do Congo pode ser traduzida como “Você me tocou por dentro” ou “Mexeu comigo profundamente”.

“Wankoze Munda” é a resposta, o eco: “Você me atravessou, me alcançou no íntimo.”

Mas essas palavras são muito mais do que uma tradução.

Elas são convocação, vibração e testemunho de algo que não se explica apenas com lógica. É preciso sentir. E foi isso que me aconteceu: senti e ainda sinto.

Essas mulheres, ao realizarem esse gesto coletivo, com o Orí na água e os corpos entregues ao canto e ao clamor, estavam acessando memórias muito mais antigas do que a própria linguagem verbal.

No meu entendimento, estavam dizendo e reafirmando para elas mesmas e para o mundo:

“A força está aqui. Ela vem das águas. Ela vive em nós.”

Ritual das águas e a espiritualidade que nos une

Esse ritual ruandês é um ato espiritual, um chamado coletivo de cura, resistência e escuta profunda do corpo e da natureza.

Na tradição de povos africanos e indígenas, a água é fonte de vida, sabedoria, passagem e renascimento.

Carregar sobre o Orí essa energia pulsante, cantar coletivamente e vibrar juntas: tudo isso são formas de acessar algo que está para além da dor, para além da palavra.

É também uma maneira de dizer:

“Mesmo atravessadas pelas dores do mundo, ainda estamos aqui, conectadas, continuadas, pulsantes.”

A ancestralidade pulsa onde estivermos

Esse ritual me reafirma que não importa onde estejamos geograficamente a ancestralidade nos atravessa.

Não importa se estamos em Ruanda, Brasil, Congo, Angola, Gana ou em qualquer outro território:

a água que limpa, que embala, que guarda, também está dentro de nós.

Somos feitas da mesma energia que pulsa nessas rodas, nesses cantos.

E se nos permitirmos sentir, vamos lembrar:

lembrar que somos parte, lembrar que esse chamado também é para nós.

Foto abaixo: Posted by Oyindamola Depo Oyedokun

Convite ao sentir e à continuar

Quero dizer a quem me lê que essa é uma partilha, e não uma explicação fechada.

Não tenho todas as respostas e nem quero ter.

O que trago aqui é uma vivência, um eco, uma reverência.

Por aqui sigo nas pesquisas, fiz alguns contatos e certamente essa partilha renderá continuidade , mais convido você que também sentiu esse chamando a pesquisar, a se aprofundar, a se permitir ser atravessada por essa força grandiosa .

O saber ancestral não está apenas nos livros ou nos arquivos externos: está no corpo, no sonho, no gesto, na água, na memória, no Orí.

E como disseram aquelas mulheres em Ruanda:

“Yankoze Munda” — isso me tocou por dentro.

“Wankoze Munda” — isso me alcançou de verdade.

Que essa vibração nos conduza.

Urakoze cyane!

Muito Obrigado!